Um dos maiores privilégios de ser um escritor é poder enxergar a si mesmo através da escrita, poder enxergar as próprias mudanças na forma como minha arte também muda.

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Um ponto em comum entre todas as formas de artes é a busca do artista por um "estilo pessoal", uma característica de fácil identificação em suas obras que diga para as pessoas "fui eu quem fiz", e na escrita, isso não podia ser diferente.
"Você ainda se lembra de como tudo isso começou? Quando você se deitou calada, nos braços quentes de um caderno, rabiscou os primeiros versos E suspirou assustada ao perceber o que tinha feito... O poder incalculável que tinha acordado dentro de si, Suas próprias palavras, Que, como uma febre, te consumiram até que aprendesse a domá-las. Você virou poesia." - Trecho do poema "Meu caro Eu"
A minha jornada na escrita começou dessa forma, numa busca por definir um padrão de escrita, algo que me caracterizasse como escritora, então fui atrás das mais variadas referências, Mario Quintana, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, pensando que quando tivesse meu estilo definido, minha escrita fluiria com muito mais facilidade.
Mas o cenário com o qual me deparei não foi exatamente esse, porque ao tentar padronizar minha escrita, acabei podando boa parte dos potenciais poemas que poderiam surgir naquele momento, porque eles não se encaixavam numa característica específica que eu buscava naquele momento.
Isso durou até o momento em que tive um imenso bloqueio criativo, sem capacidade de escrever um verso sequer por meses, e isso me fez perceber que a forma como eu via minha escrita precisava mudar. Ao invés de rejeitar a inconsistência, as mudanças no estilo e linguagem, decidi abraça-la como parte desse meu estilo pessoal, e dessa forma, acabei abraçando também, mesmo que inconscientemente, a minha própria mudança, me permitindo ser mais fluida, assim como muita escrita.
"Você jamais abriria mão daquelas coisas que viu, das pessoas que conheceu, das conversas que teve, dos momentos que viveu, Porque não importa para onde você tenha olhado, Sempre viu poesia." - Trecho do poema "Meu caro eu"
E hoje, permitindo que minha escrita vá até onde precisa ir, por qualquer caminho que decidir tomar, consigo ver minha evolução literária com alegria e orgulho, consigo identificar tudo o que mudou, e tudo o que permaneceu, como um espelho que me permite olhar pra mim mesma sob o olhar de um terceiro. Se antes, minha escrita servia como forma de experimentação, como meu ratinho de laboratório, hoje já nem sei dizer onde minha arte começa e eu termino.